
SORTE DE PLEBEU
A Bíblia conta que um dia o rei Davi chegou com seus soldados a um lugar chamado Baurim. De repente apareceu um parente do falecido rei Saul chamado Simei, que começou a proferir maldições contra o rei. Também atirava pedras contra Davi e os seus soldados. Então Abisai, comandante do exército, pediu ao rei para matá-lo. Mas Davi disse: “Deixe que ele me amaldiçoe, porque o Senhor transformará em bênção a maldição deste dia”.
Em "O Verdadeiro Inglês", Daniel Defoe escreveu: “Quando os reis abrem mão da espada da Justiça já não são reis, embora possuam a coroa. Os títulos são sombras; as coroas, coisas vazias. Porque o fim dos reis é o bem dos súditos”. Bem, Simei era súdito; um mau súdito, mas o era. E eu sou filho de Deus; pecador, mas sou filho dele. Entretanto, Deus não me mata por ser pecador. Antes, diz para eu me converter e viver.
Convenhamos: a atitude de Davi, levando em consideração os costumes da época e também a pessoa que ele era, foi coisa espetacular. É, filho de rei celestial são outros quinhentos! Diante do vexame poderia irar-se (como nós nos iramos com aquele vizinho barulhento, com a caixa do mercado que demora etc.), mas não deixou por menos e comportou-se como um cidadão do céu.
No campo de batalha Davi podia extravasar a sua ira, as suas dores, as suas frustrações; já amar Simei exigia renúncia da própria vontade, do conforto e dos privilégios pessoais de rei para dedicar-se à vontade do outro, respeitando-o e perdoando-o.
Amar não é fácil. Lembre de Jesus na cruz nos amando, com os pés e mãos perfurados e com uma coroa de espinhos arranhando dolorosamente seu crânio por horas. Morreu em nosso lugar, levando sobre si os nosso pecados. É, amar dói, custa; cansava Davi mais do que as batalhas; mas constrói, edifica, salva. No final das contas, Simei foi salvo pelo amor de Davi; e nós, pelo amor de Jesus. Aleluia!
Um outro aprendizado que tirei do texto bíblico é sobre a misericórdia. Nosso Deus manda perdoar em todas as circunstâncias, assim como Ele nos perdoa sempre. Confira na oração do Pai Nosso. Às vezes pensamos estar cobertos de razão e não vemos nenhuma, mas nenhuma possibilidade mesmo de fazer algo que vá contra a nossa vontade — como perdoar um homem que estupra e depois corta em pedaços uma criança, por exemplo. Mas, se Deus o perdoa mediante o arrependimento, então nós também devemos perdoá-lo, pois a morte de Jesus na cruz arrancou a maldição que pesava sobre nós de não conseguirmos ter ou obter misericórdia.
Misericórdia é a junção de duas palavras em latim: miseratio (compaixão) + cordis (coração). Assim, pode-se entender literalmente misericórdia como "coração compadecido". Jesus disse: "Bem-aventurados os misericordiosos porque Deus terá misericórdia deles no dia do juízo final". Quando não há mais nenhuma razão para perdoar uma pessoa, então você a perdoa mesmo assim. Isso é ter misericórdia.
Nós não somos como o pobre Simei, que se autocondenara a odiar enquanto vivesse. Hoje, estamos livres deste peso e temos tanto a condição para matar como para amar. Os que decidiram amar a Deus através de Jesus enveredaram pela segunda opção. Por isso, Hitler, Nero, Herodes, o malvado gerente da empresa ou do banco — sim, eles também! — ou os traficantes que empunham fuzis para controlar a distribuição de drogas nas favelas, todos eles, sem exceção, poderiam salvar-se desde que o quisessem.
Em se tratando de pessoas, a Bíblia diz que qualquer um é candidato potencial ao céu, bastando arrepender-se e viver na vontade de Deus. Foi Ele quem fez essa lei e assim decidiu, porque a tudo julga com amor, prezando a salvação e nunca a condenação. É falso o pensamento de que Deus está sempre com uma espingarda apontada para nós, pronto a atirar ao nosso menor pecado. Não, Ele acredita em todos os seres humanos, sejam eles o que forem. Porque nós julgamos pelo que vemos e, às vezes, nem por isso: julgamos simplesmente pelo que sentimos ou deduzimos sem nada termos visto.
Felizmente Davi não era assim, e nem Deus e Jesus o são. Coisa de nobres.
Por: Cezar Ribeiro